Monday, January 01, 2007

Guerra civil, sim!

Mesmo um jornal de centro-direita como a Folha, supostamente mais moderado do que o resto dos veículos de direita mais radical que dominam a comunicação no Brasil, parece ter dificuldade de enxergar com clareza e clarividência a questão da violência que, agora no Rio, assume os mesmos contornos trágicos e emergenciais do que aconteceu em São Paulo há poucos meses. Isso fica demonstrado no editorial "Falta de Estado" (31/12, abaixo), que dá diagnóstico absolutamente errado para a tragédia que está acontecendo neste país. Porém, no fim do editorial o jornal acerta ao questionar se o que acontece no Brasil não seria uma "guerra civil". E a resposta é sim, é uma guerra civil, e guerras civis não ocorrem por "falta de Estado", decorrem de sociedades divididas irremediavelmente. E a sociedade brasileira, de certa forma, está dividida, ainda que seja numa proporção de 90% contra 10%, dizendo a grosso modo. A desigualdade brasileira - escrevo a mesma coisa há anos - é uma aberração. Não se conhece situação tão grave em país nenhum. Somos um país em forte processo de industrialização que conseguiu manter a desigualdade rural de países miseráveis da África. Não haverá, portanto, Estado que resolva o problema da guerra civil brasileira por meio de repressão. A única solução é distribuir renda, mas isso passa pela aceitação do processo por uma elite que tem justamente lutado com todas as forças contra um governo repartidor, recusando-se terminantemente a aceitar medidas que suavizem a insana concentração de renda brasileira.

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Folha de São Paulo, 31 de dezembro de 2006

Falta de Estado
Milícias, atentados, vítimas civis: como atesta o próprio vocabulário, a crise na segurança mudou de patamar DEPOIS das ondas de terror vividas no Estado de São Paulo nos meses de maio, julho e agosto, os bárbaros atentados ocorridos no Rio de Janeiro nestes dias de dezembro vêm como que assinalar, com perversa precisão cronológica, o modo com que 2006 será lembrado na história brasileira mais recente.Os eventos de vária índole que marcaram o ano na esfera político-eleitoral têm sua importância esmaecida quando comparados a tudo o que veio instituir, a ferro, fogo e sangue, um patamar novo de violência e desagregação nas grandes cidades do país.O próprio vocabulário utilizado para descrever essa realidade conheceu uma mudança qualitativa. De há muito no noticiário policial, palavras como "chacina" e "massacre" se tornaram corriqueiras. Todavia até recentemente eram apenas nas páginas dedicadas às crises internacionais, aos países varridos pelo extremismo religioso e pela guerra, que se encontrava -como agora no Rio e em São Paulo- o cálculo do "número de civis" mortos a cada atentado.Conheciam-se, pelo menos desde a década de 1970, os "justiceiros", os "esquadrões da morte". Mas o termo de "milícias", que antes se associava apenas a conflitos como os da África e do Oriente Médio, agora passa ao uso cotidiano no Brasil.Designa, ao que tudo indica, um tipo mais cristalizado de organização e um espectro mais amplo de atividades. Não se promovem apenas atos isolados de extermínio: ao ocuparem determinado morro ou comunidade, as "milícias" cobram taxas e impostos, explorando o comércio de gás e as ligações de TV a cabo. Rivalizariam com os traficantes, por outro lado, em iniciativas de cunho recreativo e assistencial.É bastante conhecida a conceituação do sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) segundo a qual o Estado moderno se define pelo monopólio dos meios de coação física legítima num determinado território. Dessa ótica, o Estado brasileiro, ao menos em certas áreas de grandes cidades como Rio e São Paulo, dá alarmantes sinais de colapso.Não é apenas a posse das armas que deixou de ser exclusiva da polícia e do Exército, num ambiente de criminalidade escancarada; em muitas comunidades, também as funções de policiamento, de cobrança de taxas, de atendimento às necessidades sociais e de administração da "justiça" passaram às mãos dos traficantes e das milícias.Um conluio perverso entre ineficiência, corrupção, descaso e cinismo governamentais faz da população pobre das grandes cidades a vítima principal de uma situação que seria eufemismo classificar apenas como um "surto de criminalidade" ou uma "onda de violência": que não seja ainda o caso -esperemos- de dar-lhe o nome, simplesmente, de guerra civil. Escrito por Eduardo Guimarães às 12h18

3 Comments:

At 8:34 AM, Anonymous Anonymous said...

Se há um guerra cívil só pode ser resolvida através da VIOLÊNCIA. É o único jeito de se resolver uma guerra

sobre pobreza e violência
até a década de 50 as diferença socias eram iguais aos dias de hoje e a violência era como nos paises desenvolvidos.
antes os pobres não tinham tv, geladeira, fogão, dvd, celular, computador que grande parte dos favelados possuem

sobre educação e violência
antes faculdade era coisa da elite e o analfabetismo era astrônomico e a violência era reduzida

então pára de escrever besteiras sociólogicas no teu blog e vai se informar um pouco

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At 5:17 PM, Anonymous Anonymous said...

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At 4:05 AM, Anonymous Anonymous said...

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